DO BLOG DO PEDRO MARTINELLI, PRA QUEM É SANTARROSENSE, VICIADO EM ESPORTE E TAVA MUITO QUERENDO GANHAR UMA COPA, É UM ORGULHO TER CONHECIDO E CONVIVIDO COM O SUJEITO AÍ DEBAIXO. ALÉM DE TUDO ISSO, A SENSIBILIDADE DO PEDRO MARTINELLI E A HISTÓRIA DA FOTO SÃO DEMAIS. O TEXTO FOI PUBLICADO NO BLOG DO PEDRO ( www,pedromartinelli.com.br/blog ) . SEMPRE QUE PUDEREM, PASSEM POR LÁ, É ARTE PURA.
Este penalti que o Taffarel pegou na copa de 1994 trouxe a taça para o Brasil. Que drama a decisão de uma copa nos penaltis.
Em alguns momentos, de desconcentração, eu imaginava como estaria o Brasil naquele momento.
Eu já tinha coberto tres copas, Espanha, México e Itália e tambem não tinha visto a cor da taça na nossa mão. O fotógrafo que vai para uma copa é escalado um ano antes e passa cobrir a seleção em tempo integral. Não tem jeito, voce vira cúmplice. Nas outras copas eu me senti tão derrotado quanto os jogadores.
A copa da Espanha foi especialmente dolorosa porque os espanhóis choravam na rua, inconformados com a derrota.
Antes do jogo a Fifa faz uma preleção para os fotógrafos, a presença é obrigatória porque no final da reunião é a entrega dos coletes. Cada fotógrafo escolhe uma cor que corresponde a um lado do campo. A revista Placar tinha dois fotógrafos, eu e o Nelsinho. A troca de coletes é permitida entre fotógrafos, mas não é permitida a mudança de lado com colete de outra cor. Foi o que aconteceu comigo naquela final contra a Itália. Não me deixaram passar para o lado onde seria batido os penaltis.
Eu trabalhava com quatro cameras. Com as lentes 400mm e 300mm eu fotografava na mão mas a 600mm era muito pesada e tinha que ser apoiada no monopé.
Fiquei esta meia hora que antecede a cobrança do penaltis siscando pra lá e pra cá, na minha medade de campo tentado decidir o que fazer. Eu tinha duas alternativas, a mais cômoda, garantida e sem riscos era fotografar de 400, exatamente em cima da linha que divide o campo e quando terminasse os penaltis invadir o outro lado e,continuar trabalhando com as outras câmeras. A mais perigosa era ir de 600mm e me afastar até a marca do penalti do meu campo e depois dos penaltis continuar quieto e fazer o que fosse possível.
Decidi ir para o risco. Coloquei a 600 que virava 1200 na digital e coloquei o monopé em cima da marca do penalti do meu lado de campo. No eixo. Queria a rede do gol como fundo da foto. Quando o Taffarel entrou em baixo dos tres paus sobrava um milímetro em cima da cabeca e dos pés. Quando ele movimentava para os lados com os braços abertos, a mão saia de quadro. A aproximação era tanta que deslocar a câmera para os lados um centímetro fazia o gol sair totalmente de quadro.
Pior, como o Taffarel eu tambem tinha que escolher um lado e ir. Nesta hora percebi que estava tudo certo tecnicamente porque camera e lente eram uma extensão do meu corpo, eu não percebia a camera na mão, Sentia que minha respiração fazia a camera balançar muito. Fui me controlando, sabia que o instinto daria conta de disparar na hora certa, mas não podia sair rápido e passar o gol.
No primeiro penalti eu decidi ir para a minha esquerda, a direita do goleiro. O Taffarel e a bola foram para o outro lado. Na minha chapa nada. Só a rede. Treinei com goleiro italiano, era muito dificíl, uma loteria. Fiquei firme. No segundo penalti continuei achando que o Taffarel ia para a esquerda dele, eu fui e ele não. Nesta foto só aparece os pés dele indo para o outro lado.
Terceiro penalti. Eu e ele fomos para o canto certo e eu enchi o quadro. Uma única chapa, esta que esta ai em cima.
Fui para a sala de imprensa descarregar o cartão e vi que tinha feito a foto. Ai sim suei frio, de emoção. Em seguida chegou o Juca Kfouri. Nenhuma palavra. Só um forte e longo abraço choroso.
Voltei para a entrega da taça, que delicía imaginar o Brasil naquele momento.
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