Este é um post me exibir, sem ficar cheio, é claro. Brincadeira a parte vai aí embaixo o texto que a Poliana Pasa, estudante de jornalismo de Santa Cruz, escreveu para seu trabalho de "jornalismo opinativo" da faculdade, sobre o show do Bebeto Alves em Santa Cruz. Muito legal a crítica.
"O Rio Grande do Sul sempre teve fama de bairrista. Nós, os gaúchos, temos a tendência explícita de supervalorizar o que é nosso. Possuímos um discurso de imenso orgulho - com alguns respingos de separatismo, é verdade - em relação a tudo o que criamos e ao nosso próprio estilo de vida. E em produção musical não é diferente. Conseguimos até importar elementos e fazê-los parecer autenticamente gaúchos. Prova disso foi a apresentação de Bebeto Alves no auditório da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) na última sexta-feira, dia 21 de outubro. O show era baseado no álbum BlackBagualNegoVéio, que foi lançado em 2004 pelo selo UPA!, do próprio cantor. Quer mais gaudério que isso? Afinal, em que outro lugar do planeta um guitarrista subiria ao palco usando bombachas e um par de Adidas?
Procedência Gaúcho que se preze sabe que Bebeto Alves é muito mais que pai da atriz Mel Lisboa. Mas, por via das dúvidas, aí vai um breve histórico do cara: nasceu em Uruguaiana, fez a maior parte da carreira em Porto Alegre e, atualmente, mora no Rio de Janeiro. Além de músico, trabalhou como publicitário e funcionário público - até dezembro do ano passado era Secretário da Cultura e Turismo da Prefeitura de Uruguaiana. Em 1986, partiu para um semestre nos Estados Unidos. De volta ao pampa, participou da criação da Cooperativa Mista dos Músicos da Porto Alegre (Coompor). Sempre valorizou a sonoridade gauchesca e fronteiriça. Parece release, mas as informações são essas. Tá bom assim?
AES Sul A promoção do espetáculo é da companhia de energia elétrica AES Sul, que tem o projeto Sonoras Energias. A iniciativa atinge 20 municípios do estado e a renda dos ingressos - os quais sempre têm preços bem camaradas - é revertida para espaços de arte das cidades. No caso de Santa Cruz do Sul, a beneficiada foi a Pediatria do Hospital Santa Cruz. Não é bem um espaço artístico, mas também vale. Em 2005, já passaram por aqui, através do mesmo projeto, Vitor Ramil e Nelson Coelho de Castro. O Sonoras Energias promete, ainda para esse ano, apresentações de Nei Lisboa e Raul Ellwanger. Aguarda-se ansiosamente.
Rock bagual O show foi um desbunde! Acompanhado por Marcelo Corsetti na guitarra, Rodrigo Rheinheimer no baixo e Luke Faro na bateria, Bebeto fez uma verdadeira ode ao rock’n’roll. Seu próprio rock’n’roll, que mistura milongas acústicas com batidas eletrônicas. A maioria do repertório girou em torno do BlackBagualNegoVéio e o destaque vai para "Paint it Black", dos Rolling Stones. O cara milongueou e interpretou dez mil vezes melhor que o Mick Jagger. Juro por Deus! "Paint it Black" agora é de Bebeto Alves. Ele não deixou, é claro, de tocar alguns clássicos da carreira solo e da parceria com Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira e Totonho Villeroy, a qual resultou nos álbuns Juntos e Juntos 2.
O guitarrista Marcelo Corsetti é tão bom que merece um tópico só para ele. Não é apenas o look inusitado que chama a atenção. Sua performance no palco é algo de muito louco. Nem sei qual adjetivo usar. A mesa da guitarra foi construída no chão, em volta do guitarrista, como se fosse um autorama. Tinha até uns bonequinhos do desenho animado Toy Story numa das pontas. Efeitos, muitos efeitos...Bebeto Alves sempre flertou com a música eletrônica, desde álbuns como Paisagem, porém nunca de maneira tão explícita. E o culpado é o guitarrista. Foi ele quem convenceu o cantor a fazer todas essas estripulias. Deu certo!
Bis "O bis já vem pronto, não existe show sem bis", admitiu o cantor. Mas nem por isso essa parte da apresentação teve menos vigor. Talvez tenha sido a melhor. Bebeto retornou ao palco sozinho para incorporar "Chamamecero", de Mauro Moraes. As palavras, que já saíam sentidas e cheias de expressão, ficaram ainda mais significativas em "Pegadas", sobre a experiência dele nos Estados Unidos. Com direito a trechos de "Satisfaction", dos Rolling Stones, a música faz referência até à literatura beatnik. O que só me permite uma conclusão: os bons lêem Bukowski.
Novela das oito Bebeto Alves teve música no horário nobre da Rede Globo. Não lembra? Ah...mas na voz da Ana Carolina você vai recordar: "Eu quero ser uma tarde gris...". No show, a canção "Una Loca Tempestad" foi apresentada na versão original, em espanhol, como composta por Bebeto e Totonho Villeroy.
Tietagem? Bem capaz! "Se essa é a tua humanidade, eu sigo à procura de mim". Com essa frase, que antecede "Don’t", eu me rendi. Ao êxtase. Nem fiquei depois do show para tentar tirar uma foto com o Bebeto. Meu lado tiete foi rapidamente suprimido por idéias de profundidade, de transcendência, sei lá. Só sei que fui embora devagar, como uma reles mortal que deixa um santuário. Nesse caso, um templo musical e, acima de tudo, poético. Senhor! O cara é puro rock’n’roll. Gaúcho.
Dica Antes e depois do show tocou o álbum Eco, do uruguaio Jorge Drexler. Com "Al otro lado del río", que está na última versão do disco, ele ganhou o Oscar (a música está na trilha de Diários de Motocicleta). Folk, milonga, som latino. Jorge Drexler. Anotou? Não deixe de ouvir!